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Conto nada curto 5 - Uma transa espacial
TRRRIIIIM...
- Oi, Rosa, aqui é a Berenice. Você tá boa? Tô te ligando pra te contar uma experiência incrível! Nunca mais vou esquecer, amiga. Nem te conto.
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-  Claro que te conto. Preciso contar a alguém. E tem que ser você esse alguém.
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- Não posso guardar esse segredo só pra mim. Não agüentaria. Alguém precisa dividir comigo. Foi bárbaro. Foi bárbaro!
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- O que foi? Tô enrolando? É que você não sabe o que aconteceu. Quando souber vai me dar razão de eu estar assim...
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- Pudera! Nunca tive uma experiência como essa.
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- Você me perdoa, eu estou confusa. Muito confusa. Eu não devia nem ter telefonado. Eu tinha que colocar primeiro as idéias no lugar. Mas quem dera! Não consigo.
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- O quê? Tá! Fácil para você, filha. Quando você souber o que me aconteceu, vai ver que não é mole não!
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- Como? Fico enrolando, né? Tá bom. Se segura, garota, que é um verdadeiro barato. Pois é, eu tava ali naquele velho ponto. O mesmo de sempre. Tava um frio de lascar. E eu com aquela velha mini e meu bustiê desbotado. Roupa de guerra, malandra, você sabe...
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- Tô sabendo que eu  preciso comprar umas roupas, sei disso, meu bem. Mas a grana tá curta. Voltando ao ponto: eu tava lá, como todos os dias e cliente que é bom, nada. Mas eu tava firme, precisava ganhar o meu, não é mesmo? De repente, vi uma luz forte. Muito forte, quase não enxergava nada... Eu já tava disposta a xingar o cegueta, quando olhei melhor. E você nem imagina.
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- Como é que é? Não, se você não imagina, eu te conto. Só me dá um tempo. Vou contar tudo, querida. Vou contar tudinho. A luz foi se aproximando. Não era carro não. Era um disco voador.
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- Não tô tirando nada com tua cara, querida. Tô falando a mais pura das verdades. Era um disco voador. Não era grande. Devia ter uns três metros, no máximo. Na largura, sabe.
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- Não tô tirando sarro!
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- Não tô bêbada!
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- Não, não cheirei nada, nem fumei. Aliás, faz tempo que eu não curto essas coisas. De repente a porta daquela coisa se abriu. Vi um vulto...
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- Pô! Não era o ET do filme. Não tinha nada a ver com aquele monstrinho. Era um homem alto, forte, parecido com a gente...
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- Tá, eu sei que eu não sou alta. Eu não quis dizer isso. Eu disse que ele era igual a nós. Com dois braços, duas pernas, uma cabeça com dois olhos, nariz e boca. Diferente desses ETs. que a gente vê no cinema. Aliás, a única coisa  mais estranha é que ele tinha a pele meio cinza...
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- Eu  não tô vendo muito filme  de ficção não. Que coisa, pára com isso! Deixa eu te contar o resto. O homem veio na minha direção. Minhas pernas começaram a tremer, eu tava de um jeito que não sei... Eu queria  fugir dali, sair correndo.
.....
- Claro que eu tava com medo! Você não ficaria? Quem não ficaria?. Eu não conseguia falar,  nem abrir a boca para gritar. E ele chegando... Eu parada... E ele chegando... Aí ele parou bem na minha frente. Olhou bem pra mim. Que olhos, menina, que olhos! Nunca vi igual!
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- É. Ele não falava nada. Nem eu. Aliás, ele não abriu a boca. Só olhou pra mim, pegou na minha mão e foi me levando para o lado do disco.
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- Que nada, querida! Não me puxou, não me forçou. Foi bem delicado!
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- Não, não era gay! Rô, você tem cada uma! Então ele foi me levando para a nave. Lá dentro, o disco era bonito. Cheio de luzes. Era assim...
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- Não era um quarto de motel não. Não tinha espelho no teto, nem banheira de hidro, nem nada. Tinha uma cama sim, mas uma cama diferente de todas que eu conheço!
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- É, filha. Olha que eu conheço mesmo muitas camas. Faz tempo que eu faço a vida! Mas como eu tava te contando. Ele me deitou suavemente. Tirou minha roupa delicadamente. Ficamos nus. Ele se deitou  ao meu lado.
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- Tá, até aí não tem nada demais. Concordo, só que...
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- Deixa eu falar, pô! Você só fica dando palpite na minha história. Falando coisa que não deve. Daqui a pouco eu me arrependo de estar contando pra você, desligo essa bosta de telefone e pronto!
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- Quem tá nervosa?
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- Não tô não. Só me enche o saco essas tuas interrupções, essa tiração de sarro, só isso!
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- Promete? Então tá. Onde é eu que tava mesmo? Ah! Pois é, a gente foi pra cama. O homem tinha um corpo legal.
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- Olha, pra te dizer a verdade, até que o negócio dele não era grande coisa, nada deste mundo. Quer dizer, ele era de outro mundo. Mas eu te garanto que já vi até bem maior. O diferente, meu bem, não era a coisa dele... Era... Era... o seu jeito! Quando ele me penetrou, eu senti algo assim tão diferente. O troço dele me queimava por dentro. Mas era uma quentura gostosa, um negócio divino. Olha, não tenho jeito melhor pra te explicar. Foi do cacete!  Bárbaro!  Incrível!  Sei lá!  E aí aconteceu uma coisa incrível que há muito tempo não acontecia comigo. Sabe o que é? Tente adivinhar...
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- Tá legal, então te conto. Menina, gozei! Gozei gostoso, como nunca fiz na minha vida. nem com o Alfredão, nem com o Paulo, com ninguém. Foi a melhor transa da minha vida! Inesquecível!
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- Coisa de outro mundo, minha querida! Que homem!
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- Se tô apaixonada? Não sei te dizer, acho que não. Foi um negócio físico. Foi pura carne....
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- Tá, pura sacanagem. Também não nego.
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- Olha, só o fato de eu gozar já é um grande acontecimento. Mas deixa eu terminar a história. A gente ficou um pouco deitado depois de transar.
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- Não, ele não fumou. Acho que nem fumava. Depois um tempo que eu não sei te dizer quanto, ele me levantou nos braços, me pôs de pé. Pegou minhas roupas, me vestiu e me levou pra fora do disco voador. Caminhou comigo até o ponto onde eu estava antes. Deu-me um beijo. Voltou para a nave. Quando ele estava na porta, virou-se e sorrindo me acenou um adeus. A porta fechou e a nave foi embora pela noite.
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- Filha, esqueci. Na hora esqueci mesmo. Não cobrei não. Aliás nem tinha coragem de cobrar.
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- Sei lá, eu não sou de ficar gamada, grudada em ninguém. Já passou o tempo que eu me apaixonava pelos homens. Mas esse, sei lá...
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- É, não abriu a boca pra nada, só pra beijar. E nem precisava falar nada. O amor é feito com silêncios.
...
- Pois é, estou apaixonada.
...
- Pra te dizer a verdade, eu tô pensando como seria bom se ele voltasse...
...
- Como é que é? Você quer fazer o ponto comigo hoje à noite? Pra quê? Por quê?
...
- Ah, é! Que é que você tá pensando? Transa Espacial eu topo. Suruba espacial, nem pensar, sua perua! O cara, além de tudo é meu cliente. E cliente eu não divido com ninguém. Vá se danar...
CLICK!
Roberto Bordin
Enviado por Roberto Bordin em 23/05/2007
Alterado em 24/05/2007


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Imagem de cabeçalho: jenniferphoon/flickr